Tuesday, December 05, 2006

CARO DIARIO


I’m not the kind of person to count the days to end of the calendar, I decide to do something!
Between smiles and tears, and saudades that I transform in thousand ideas for after and after taking this experience as a spiritual retreat...

In truth, when the scenery around us is aggressive and uncomfortable the only thing you can do is to work on your self esteem and unconditional love. But it’s still not easy to be alone and do it...

I arrived here in Italy with some questions in my head, among them: do I have the needed skills for developing my job; do I have the energy to give without knowing if tomorrow will be there, as in the social business your work depend on the approval of projects, and there’s never the financial security for allowing you to do a better and deeper job…; do I want to continue in this path knowing what are the conditions? Are there anyother ways for me?

When I’m on a dead end I like to make it even harder in order to see what I’m really able to do. That made me choose to come here to the isolated disadvantaged mountains of Aspromonte.
When I arrived I wrote something like this: I want to reach the top of my own mountain and from there to be able to see myself clearer at distance and simultaneously in detail.

I ended up into a completely unknown and very specific local reality: the one that these people here have to deal with, living from the predecessors heritage, that among rich and poor people for many diverse causes, choosed to bring organized crime into their lifes. A place where nowadays is difficult to establish the limit of what’s is Mafia or local culture. The system is implemented at all levels, administration, political, economical and this system is much more stronger and closer than a state called Italy.
A bright trick, this for the ones passing by not to understand where does one world starts or finishes, in a land where is important to play the smart wolf, where the culture of silence commands communication- I don’t know, I didn’t see, I didn’t hear-, where the unknown and the foreigner don’t seem to have a place, where not far from here the family with children in the school age receive money from the state to attend school –la paghetta, in this way motivating children’s education instead of easy going culture of starting to climb the stairs of the Godfather’s house.

All of this exists, and a lot more that is not said, or able to be seen, not only here in Italy but all over in many countries of Europe and the world: Life Stories of people with lack of freedom, facing unfair situations, intolerance, greed, fears, unhappiness, manipulation, conservative thinking, closed perspectives and all other social and human diseases.

A sad reality like this one, made me found in myself the answers to my initial questions and so many others that arise all throughout the process.
I have new questions to take with me now, that were impossible to have if I didn’t came here...

I discover that I can use my sensitiveness, my knowledge and my life experience focusing on the basic question behind all questions and that is:
To place unconditional love, peace and happiness in people’s life!
Soon you’ll know more about my new life project “the house of happiness”!

On the way to my orange couch, I’ll take with me:
-the view over the Etna in ebullition during night designing orange roads in the middle of the sky or in the end of the afternoon with coloured rainbow degradé on the background, seen from my terrace;
-the silence that allowed me to felt asleep and wake up to the sound of sea waves;
-the darkness that allowed me to see stars;
-the paintings and the personality of my friend Gós;
-the (in)formal conversations with Paul, Peter and Paola, and many enlightments that I had from their words;
-to see growing up smiles of Lucas and Simone (sons of Paola and Peter, with more a less 3 years and 1,5 year old respectively);
-the fabulous meals in Pentedatillo’s Degusteria sponsored by the talented hands of my friends Simona and Pascoale;
-tarantela (la vita nera) balls;
-brioche with icecream ;
-my siesta time;
-the beach for myself and the possibility of swimming on the 20th November;
-acquagym classes where i could loose 1 kilo in 1 hour;
-the friendship of Dana, one of most calm and sweet dogs I’ve ever known that made me company. This smart Dutch dog that could understand all languages!!!
-my old Piaggio, “war” companion;
-and a tree planted by myself!!!

Thanks to all the persons that made this experience possible here in Annà di Melito di Porto Salvo, Associazione Pro Pentedatillo and specially to my host organization Pame Ambro, my organization in Portugal and Ana that replaced me bravely during these 6 months, my parents (taking care of my burocracy), my family and all my old and new dear friends for the support !

For sure was a one life occasion to give me time to reflect, to open and reinforce my beliefs, myself and what I do and how do it! I can now recognize how much I’ve accomplished before coming here and I’m surely very happy to return to all of it!!!

The inner travel has modified me and it doesn’t arrive to the end with me returning home, it will continue forever…leading me and whom is around to deeper and wider places… From a highest point of “Five Fingers Mountain” I’m now able to see the world with a clearer perspective and to place myself on the next road…
Marco, I’ve opened the door!

Hello!

P.S: Nanni Moretti’s “Caro diario”, is one of my favourite italian movies- Italy seen from the Director perspective while ridding a Vespa motorbike in Rome.





CARO DIARIO

Não sou pessoa de contar os dias para o fim do calendário, resolvo arregaçar as mangas e tentar fazer alguma coisa.
Entre sorrisos e lágrimas, e as saudades que se vão transformando em mil ideias para depois, vou seguindo o meu retiro espiritual.

Em verdade, quando o cenário que nos rodeia é agressivo e desconfortável a única coisa a fazer é trabalhar a nossa auto-estima e amor próprio. Não foi fácil estar sozinha e consegui-lo...

Cheguei com muitas questões na cabeça, entre elas: se tenho as competências suficientes para fazer o trabalho que faço; se fazer um trabalho de educação é viver todos os dias na corda bamba, vivendo da insegurança da aprovação ou não de projectos, quando nós sociedade civil estamos a educar e a fazer um trabalho que nenhum governo consegue fazer e podíamos ir muito mais além se nos dessem uma estrutura financeira estável; se quero continuar ou não por este caminho sabendo quais são as condições, se devo seguir outro caminho...

Quando me encontro em becos sem saída, gosto de procurar um desafio maior para ver o que sou capaz de fazer. Foi isso que me fez vir aqui às Montanhas isoladas e desfavorecidas do Aspromonte.
Quando cheguei escrevi qualquer coisa como isto: Quero chegar ao topo de mim mesma e daí poder ver-me melhor tanto à distância como em pormenor.

Deparei-me com uma realidade local desconhecida e muito particular: que é esta da cultura dos antepassados de quem aqui vive hoje, entre pobres ou ricos, por razões diversas, nasce o crime organizado. Onde hoje é difícil estabelecer o limite entre o que é a Mafia ou o que é a cultura local. Implementado o sistema a todos os níveis, do administrativo ao político, ao económico, este tem mais força que um Estado chamado Itália. Um truque inteligente, este de quem por aqui passar não perceber onde começa uma coisa e acaba a outra, numa terra onde é importante fare il furbo, onde é importante a cultura do silêncio- não sei, não vi, não conheço-, onde o desconhecido ou estrangeiro não tem lugar, onde não muito longe daqui as famílias das crianças que forem à escola recebem uma bolsa do Estado, para que se incentive a educação das crianças, em vez da cultura fácil local as aliciar a começar a subir as escadas da casa do Padrinho.

Tudo isto existe, e muito mais que fica por dizer não só aqui em Itália, mas também por muitos outros países da Europa e do Mundo: Histórias de vidas de pessoas, de faltas de liberdade, de injustiças, de intolerâncias, de ganâncias, de medos, de infelicidade, de conservadorismo, mentes fechadas e manipulação e de tantas outras doenças sociais e humanas.

Uma realidade assim triste, fez-me encontrar em mim mesma as respostas às perguntas iniciais e a tantas outras que entretanto me foram surgindo.
Outras perguntas tenho que senão tivesse aqui vindo não levava comigo...

Descobri que posso usar a minha sensibilidade, o meu conhecimento e a minha experiencia de vida focando na questao basica por detras de todas as outras e que é:
Colocar amor incondicional, paz e felicidade na vida das pessoas!
EM breve vao ouvir falar do meu novo projecto de vida “a casa da felicidade”!

A caminho do meu sofá côr de laranja, não vou esquecer:
-a vista para o Etna em ebulição à noite, traçando estradas laranja no meio do céu, ou ao fim da tarde com degradé de cores do arco íris em fundo, tudo visto em primeiro plano do meu terraço;
-o silêncio que me permitia adormecer e acordar ao som das ondas do mar;
-a escuridão que me permitia ver as estrelas e a lua;
-os quadros e a personalidade da minha amiga Gós,
-as conversas (in)formais com os meus “colegas” Paul, Peter e Paola em que se de repente se fazia luz;
-ver crescer os sorrisos do Lucas e do Simone (os filhos da Paola e do Peter, com 3 anos e 1,5 ano de idade respectivamente );
-os fabulosos repastos calabreses da Degusteria de Pentedatillo pela mão dos meus amigos Simona e Pascoale;
-os bailes de Tarantela (ou mais correctamente La Vita Nera);
-os brioches com gelado;
-a praia só para mim, mergulhando no mar a 20 de Novembro;
-as aulas de acquagym em que se perdia 1 quilo em cada aula;
-a minha amiga Dana um dos cães mais tranquilos e meigos que conheci e que me fez bastante companhia, esta inteligente cadela holandesa que percebia todas as línguas;
-a minha velha Piaggio, companheira de guerra;
-e a arvore que plantei!!!

Agradeço a todas as pessoas que tornaram esta experiência possível aqui em Anná di Melito Porto Salvo, à Associação ProPentedatillo, à Associação que me acolheu Pame Ambro, à minha organização em Portugal e à Ana que me substituiu corajosamente durante estes 6 meses, aos meus pais (que me foram tratando da burocracia), à minha família e aos meus velhos e novos queridos amigos pelo apoio moral!

Tenho a certeza que esta foi uma ocasião única na vida que me deu tempo para reflectir, para abrir e reforçar aquilo em que acredito, a mim mesma e o que faço e como o faço! Posso agora reconhecer o quanto já construí e estou muito feliz de poder voltar para tudo isso!!!

A viagem interior com um profundo nível de consciência modificou-me e não chega ao fim com o meu regresso a casa, acompanhar-me-à para sempre continuando a conduzir-me a locais profundos dentro de mim e de quem me rodeia!
Do alto da “Montanha dos Cinco dedos” consigo ver agora o Mundo numa perspectiva muito mais vasta e qual é a Estrada que vou seguir...
Marco, abri a porta!!!



Caro diário de Nanni Moretti, é um dos meus filmes italianos preferidos, que faz uma viagem por uma Itália, vista a partir da perspectiva original directamente da Vespa do próprio realizador.